nature reviews dor lombarNo dia 13 de dezembro, a Nature Reviews Disease Primer, uma publicação da revista Nature, abordou a dor lombar como tema central. O artigo foi escrito por alguns dos principais autores da área no mundo, como Johan Vlayen, Chris Maher e Katja Wiech. Acompanha a edição especial um gráfico, chamado de primeview, que resume de maneira ilustrada os principais pontos destacados pelos autores.

Nas 18 páginas do artigo, os autores oferecem uma visão global sobre a dor lombar, abordando epidemiologia, fatores de risco, mecanismos patofisiológicos, diagnóstico e tratamento. A seguir, traduzimos e resumimos os principais elementos destacados do texto:

Epidemiologia

Pelo menos 40% das pessoas terão dor lombar ao menos uma vez na vida. Os países de renda mais alta apresentam uma incidência maior (32,9%).

Fatores de risco

Os principais fatores de risco são fatores genéticos, físicos (como levantar peso muito pesado) e psicológicos (sofrimento e expectativas pessimistas) e hábitos de vida não saudáveis. A dor lombar foi a principal causa de anos com incapacidade no estudo Global Burden of Disease 2013

Mecanismos patofisiológicos

A maior parte das estruturas da coluna lombar são inervadas, podendo ser potenciais contribuintes para a ocorrência da dor lombar. No entanto, na maioria dos casos, os testes não conseguem identificar com precisão tais contribuintes. A expectativa de que a dor é sinal de um dano, medo da dor e comportamentos evitativos podem aumentar a dor e a interferência nas atividades de vida. A transição da dor aguda para a dor crônica pode ser mediada por fatores psicológicos.



Diagnóstico

A maior parte dos indivíduos com dor lombar apresentam dor não específica, ou seja, uma dor em que não foi possível identificar uma causa específica. Exames são indicados quando há suspeita de um mecanismo causal específico ou quando há indicação para cirurgia. Além disso, há ferramentas diagnósticas para se identificar o risco de desenvolvimento de cronificação da dor, como comportamentos evitativos, sintomas psiquiátricos ou questões trabalhistas.



Tratamento

Aconselhamento, auto-cuidado, retorno ao trabalho e atividades físicas são recomendados antes mesmo de farmacoterapia. Exercícios físicos e educação em dor são recursos efetivos para prevenção e manejo da dor lombar.

Quanto aos remédios, anti-inflamatórios não esteroides e relaxantes musculares pode ser considerados nos casos agudos em que não há melhora significativa com as medidas não farmacológicas.  Em casos mais complexos, recomenda-se uma abordagem multidisciplinar. De maneira geral, cirurgia não é recomendada para dor lombar não específica.

Tratamentos específicos

Para dores originadas nas facetas lombares, recomenda-se a radiofrequência das facetas.

Para dores radiculares de mais de 2 semanas, bloqueio peridural pode ser uma boa opção de tratamento.

Qualidade de vida

Pessoas com dor lombar costumam apresentar um nível menor de qualidade de vida. Estudos apontam correlação de dor lombar com outras condições, como ansiedade, incapacidade funcional, depressão, stress e insônia, entre outros. Com isso, torna-se fundamental uma avaliação ampla da qualidade de vida do paciente, através de ferramentas como o questionário SF-36. Fatores como crenças negativas e comportamentos evitativos apresentam correlação com baixa qualidade de vida. Não abordar estes aspectos pode aumentar a chance de fracasso no tratamento.

Futuro

Apesar do aumento exponencial no número de estudos sobre dor lombar, ainda há grandes desafios na área, como a grande variabilidade na apresentação clínica, no curso e no prognóstico e a limitação na efetividade dos tratamentos. Compreender melhor os fatores de risco e os mecanismos neurofisiológicos e providenciar tratamentos estratificados, voltados para cada grupo específico de pacientes, com tecnologias custo-efetivas pode levar a uma mudança no quadro atual, diminuindo o impacto da dor lombar globalmente.