eric wilsonDr. Eric Wilson é o principal nome da Medicina Intervencionista da Dor em seu país, a África do Sul. Ele esteve no Brasil pela segunda vez para oferecer aulas e treinamento aos alunos do V Curso Singular de Medicina Intervencionista da Dor, em Campinas (SP). Na ocasião, Dr. Charles Amaral de Oliveira o entrevistou para saber mais a respeito de semelhanças entre a Medicina da Dor no Brasil e na África, sua visão sobre os maiores desafios e as perspectivas futuras do trabalho com dor. Além disso, Dr. Wilson contou sobre como lidou com uma dor intensa durante 30 anos.

 

 

Dr. Charles: professor, muito obrigado por ter vindo novamente ao Brasil. Na sua opinião, quais são as similaridades quanto aos desafios que vivemos no Brasil e na África do Sul?

Dr. Eric: acredito que tanto o Brasil quanto a África do Sul atualmente contam com as mesmas práticas que os países de primeiro mundo. Temos à disposição os recursos mais modernos e atuais na Medicina Intervencionista da Dor atualmente. No entanto, a minha impressão é que geralmente o preço dos procedimentos está fora do alcance da maioria da população. Nós poderíamos fazer muito mais do que fazemos atualmente, mas estamos restritos por questões financeiras. 

Dr. Charles: você acredita que os médicos dos dois países estão preparados para tratar adequadamente pacientes com dor?

Dr. Eric: acredito que sim. Minha impressão a respeito dos médicos que conheci no Singular é de que eles têm níveis de treinamento semelhantes aos da África do Sul. Uma das vantagens que temos tanto na África do Sul quanto no Brasil é que são países com grandes populações que nos permite vermos um espectro grande de patologias. Para lidarmos com um espectro tão amplo, precisamos aprender diferentes habilidades.

Dr. Charles: quais são os desafios para os próximos dez anos no tratamento da dor?

Dr. Eric: estamos olhando cada vez mais para a Medicina regenerativa, buscando saber se conseguimos regenerar ligamentos ou discos. Acho que aqui estão as mudanças mais animadoras. Além disso, deve haver um desenvolvimento melhor nos diagnósticos e em tratamentos que sejam mais precisos. Diagnósticos mais precoces e tratamentos empregados com mais precisão podem fazer uma grande diferença para os pacientes.

Dr. Charles: como você vê o uso do Ultrassom nas clínicas de dor?

Dr. Eric: ultrassom é sem dúvida bem mais benéfico para o paciente em relação potencial iatrogênico da radiação e acho que muda a nossa percepção. Através dele, você consegue ver uma imagem em tempo real de um tecido real, de uma forma bem mais precisa. Acho que o Ultrassom é definitivamente o futuro e acredito que ele ainda será melhor desenvolvido. As imagens já estão melhorando. Acho que a integração entre Ultrassom e outras modalidades de investigação como CT ou tomografia, poderíamos mudar a imagem que temos. Por enquanto são usadas de forma isolada, mas uma integração pode mudar a maneira como trabalhamos.

Dr. Charles: uma questão pessoal – sabemos que você teve uma plexopatia alguns anos atrás e que durante um tempo parou de praticar a Medicina e foi estudar Economia em uma importante universidade de Londres. O que essa experiência acrescentou em sua vida? Sentir dor 24 horas por dia o ajudou a tratar melhor os seus pacientes?

Dr. Eric: Certamente, essa experiência ajudou a abrir os meus olhos em relação às deficiências no tratamento da dor. Os médicos que me tratarem eram primordialmente cirurgiões, que não estavam interessados em tratar a dor, mas somente a doença subjacente. Entender o que é viver diariamente com dor, como eu vivi por 30 anos, faz você perceber que há um componente da personalidade na maneira como você expressa dor. Eu não escolheria ter essa dor novamente, mas esta experiência certamente ampliou muito a minha perspectiva de vida.  Nessa situação, é muito fácil você somente olhar para os aspectos negativos disso tudo e se colocar como uma vítima. Eu acho que você pode escolher encontrar o valor das lições que aprendeu ou você pode escolher ser uma vítima.  Nosso desafio como médicos é fazer com que as pessoas mudem essa percepção: ao invés de serem vítimas, aprender a lidar com isto de uma forma melhor e seguir em frente com suas vidas. Muitas pessoas que vemos nas clínicas de dor estão presas em um papel de doente. Este é o maior desafio em relação ao componente psicológico: ajudar essas pessoas a viver com a dor, ao invés de ficar tentando viver sem ela, sem conseguir seguir com suas vidas.

Dr. Charles: Muito obrigado pela entrevista e espero vê-lo novamente no Brasil em breve.