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A sensibilização central é um fenômeno muito frequente em pessoas que sofrem com dores constantes. Quando sentimos dor por um longo período, mudanças ocorrem no Sistema Nervoso Central. O Sistema Nervoso Central é composto basicamente pela medula e pelo cérebro. Essas mudanças não podem ser vistas por exames convencionais, mas fazem com que as pessoas sintam mais dor. Esse fenômeno é chamado de sensibilização central.

Antes de falarmos sobre a sensibilização central, vamos ver um exemplo de outro tipo de sensibilização, que acontece quando exageramos na exposição ao sol. Imagine que logo depois de um divertido dia na praia, com muito sol, você entra debaixo do chuveiro e sente uma dor terrível. Isso significa que sua pele está mais sensível. Esse fenômeno é chamado de sensibilização periférica, pois não é gerada por mudanças no Sistema Nervoso Central, mas sim por uma alteração na sensibilidade da sua pele, queimada pelo sol. Em poucos dias, ela começa a ficar menos sensível e o fenômeno se torna completamente superado.

Infelizmente, quando os nervos da sua medula se sensibilizam e quando há alterações cerebrais significativas após um longo período de dor, as mudanças não são tão facilmente reversíveis quanto as da pele. Este tipo de sensibilização é chamado de sensibilização central, justamente por ocorrer no Sistema Nervoso Central. A ideia básica deste fenômeno é que o Sistema Nervoso, após um tempo significativo de dor, passa a se tornar cada vez mais sensível aos diferentes estímulos – é como se o corpo se tornasse hiper especializado em perceber tudo como dor.

Quando a sensibilização central ocorre, a pessoa sente dor em situações que não deveriam ser dolorosas: um simples aperto de mão pode ocasionar dor. Em casos extremos, o toque sutil de uma pena pode gerar uma intensa dor. Esse fenômeno é chamado de alodinia.  Outro fenômeno relacionado à sensibilização central é conhecido como hiperalgesia: um estímulo que normalmente causaria uma dor leve passa a provocar uma dor lancinante. Em ambos os casos, a dor é desproporcional ao estímulo.

Tanto a alodinia quanto a hiperalgesia são fenômenos muito comuns na dor crônica e podem causar muita confusão. Muitas pessoas deixam de falar sobre sua dor, com medo que os outros pensem que elas estão inventando ou exagerando. É muito comum a pessoa com dor ouvir de um familiar, um amigo ou até mesmo de um profissional de saúde, frases como: “mas não deve estar doendo tanto assim, acho que você está exagerando”.

Outra consequência comum da sensibilização central acontece quando a pessoa passa a evitar qualquer atividade, com medo que elas causem mais dor. Se a curto prazo, a piora da dor é evitada, a médio e longo prazo, a vida da pessoa vai se tornando cada vez mais restrita e a falta de atividade também deixa o Sistema Nervoso Central, e o corpo como um todo, ainda mais sensíveis. Ou seja, evitar atividades que são importantes para você só fará o problema ficar maior e mais difícil de ser superado. Uma atitude que pode ajudar é começar a gradualmente aumentar o seu nível de atividade, percebendo conscientemente como o seu corpo vai reagindo e compreender que a sua dor pode não estar se referindo a uma lesão específica ou a uma doença grave, mas sim a uma maior sensibilidade do seu Sistema Nervoso Central. Lidar melhor com o medo e a ansiedade de sentir dor pode ser um passo bastante importante no sentido de dessensibilizar o seu Sistema Nervoso.

Além disso, há vários recursos de tratamento que podem auxiliar a pessoa neste processo. Alguns medicamentos, como os antidepressivos e anticonvulsivantes, são muito utilizados na prática clínica para ajudar o corpo a ficar menos sensibilizado. Lembramos que para identificar que tipo de medicação é a mais indicada para cada caso é essencial que se faça uma consulta com um médico especializado no assunto. Para isso, procure um médico de dor. Além das medicações, os procedimentos intervencionistas também podem contribuir, no sentido de interromper ou atenuar os processos que estão gerando a informação de dor.

Outros recursos para a dessensibilização são oferecidos pela equipe multidisciplinar. A fisioterapia especializada em dor emprega diversas técnicas voltadas especificamente para dessensibilizar o Sistema Nervoso Central. Além disso, como o processo de sensibilização central está intimamente relacionado a alguns processos psicológicos, como a ansiedade relacionada à dor, a psicologia pode ser um recurso importante, com estratégias programadas especificamente para dessenssiblizar o organismo, como o biofeedback e a exposição gradual a atividades.